Nossa Senhora na China
Por: TZE MINGHOU


Tradicionalmente, em todo o mundo católico, o mês de Maio é dedicado a Nossa Senhora. Em sua devoção fazem-se peregrinações e outros atos públicos de culto. A China não constitui uma exceção, não obstante o empenho das autoridades em acabar com estas «práticas reacionárias e subversivas».

Visitando as igrejas católicas na China, fica-se impressionado com o papel relevante que a Virgem Maria tem na vida dos católicos chineses. Em muitas igrejas, a estátua, a imagem ou a pintura de Nossa Senhora encontra-se em destaque no centro do altar. Pode-se afirmar com segurança que a devoção a Maria é uma tradição e característica dos católicos em toda a China.

O mesmo pode ser dito dos budistas com a sua deusa da misericórdia, Kuan Yin, popularmente também chamada a deusa do mar do Sul. O seu nome era Miao Shan. Acredita-se que era uma discípula piedosa de Buda. Aqueles que procuram alívio nas suas dores e infortúnios voltam-se para ela para pedir especialmente filhos, fortuna e proteção. A estátua encontra-se praticamente em todos os templos budistas e taoístas, muitos dos quais lhe são dedicados em toda a China, especialmente no Sul. Diz-se que há milhares de diferentes encarnações ou manifestações desta divindade, que geralmente aparece vestida de esplendorosos vestidos brancos. Às vezes é comparada com a Virgem Maria.

Quanto aos católicos, é freqüente ver na China, especialmente nos meses de Maio e Outubro, peregrinações aos diferentes santuários marianos. Existem três significativos lugares de peregrinação:

O primeiro é o Santuário de Sheshan, que se encontra no cimo da bela montanha de Sheshan, a cerca de 40 quilômetros de Xangai. O Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos. Presentemente, no seu lugar encontra-se uma linda basílica feita em alvenaria com uma estátua de Nossa Senhora no centro, sobre o altar. No caminho que leva à basílica há uma série de capelas com a via-sacra que cada católico percorre como parte da peregrinação.

Os peregrinos deixaram de visitar Sheshan depois de o Japão ocupar a China em 1937. Após a Revolução Cultural (1966-1976), a igreja e muitos outros lugares santos foram danificados pelo Exército Vermelho, à semelhança do que aconteceu a muitos outros lugares sagrados chineses. As peregrinações recomeçaram no final da década de 70, depois das reformas econômicas iniciadas por Deng Xiaoping. Desde então, todos os anos, milhares de peregrinos sobem à montanha para rezar a Nossa Senhora. Povo simples, na sua maioria camponeses e pescadores, sobretudo das províncias vizinhas de Jiangsu e Zhejiang. Em cada ano, centenas de barcos de pesca cruzam o rio Yangtzé até aos canais perto da colina. De lá, iniciam a sua peregrinação até ao topo da montanha. Em quase todas as procissões, um quadro de Nossa Senhora guia os crentes, que acorrem vindos de todas as partes do imenso país e sobem à montanha rezando e cantando parando em frente das estações da via-sacra e das outras capelas. O fervor do povo vê-se nas imediações do santuário, mas especialmente na basílica.

Outro lugar importante de peregrinação é a colina de Bansi na região de Yangqu. A Igreja de Nossa Senhora das Dores fica a norte da cidade de Taiyuan. Desde 1934 que se realiza uma peregrinação anual, altura em que a Santa Sé concedeu a indulgência plenária aos peregrinos. Destruída durante a Revolução Cultural, foi, pouco a pouco, restaurada depois das primeiras reformas político-sociais na década de 80. A determinação dos crentes em reconstruir o santuário e a via-sacra que a ele conduz teve o seu epílogo quando o santuário foi consagrado, a 12 de Setembro de 1988. Até uma estrada foi aberta pelos cristãos da área para chegar ao cimo da colina.

O terceiro santuário mariano encontra-se em Donglu, dedicado a Nossa Senhora da Paz, a cerca de 30 quilômetros de Baoding, na província de Hebei. O santuário não fica numa colina, mas na planície de Hebei. As peregrinações eram anuais até que foram proibidas em 1996, alegando-se que eram ilegais e não beneficiavam a estabilidade social. Em Maio do ano passado, a polícia tentou impedir os fiéis de chegarem ao santuário. Patrulhas policiais foram mandadas para as aldeias e cidades vizinhas para bloquear as estradas de acesso a Donglu. Alguns cristãos todavia, conseguiram passar. Aparentemente, a razão que os motivou é a devoção que os católicos têm no falecido bispo Joseph Fan Xueyan, que consideram um santo. Morreu em 1992 depois de ter sido torturado na prisão. Desde então, milhares de pessoas têm visitado o seu túmulo. As perseguições a padres e bispos não têm cessado.

Os católicos sempre gostaram de dedicar a China a Nossa Senhora. Muitas igrejas são-lhe consagradas em todo o país. Cada santuário é mais do que um mero lugar religioso. É também um lugar para receber e acomodar os peregrinos que vêm de longe. Os católicos construíram casas de acolhimento perto dos santuários.

Mas o Governo chinês nunca viu com bons olhos estas peregrinações. De fato, os primeiros a serem perseguidos, depois de os comunistas tomarem o Poder, foram os católicos da Legião de Maria. Foi contra esta associação que o partido exerceu a maior e mais severa perseguição. No Outono de 1951, a comissão de controlo militar do exército de libertação chinês ordenou a extinção deste «grupo reacionário».

A Legião de Maria foi introduzida na China nos anos 30 com finalidades estritamente espirituais e para difundir o cristianismo, tendo a Virgem Maria como centro da sua espiritualidade e inspiração. Foi a sua influência, especialmente entre os jovens católicos, que causou ressentimento no partido e fez com que muitos fossem presos e levados para os campos de trabalho.
É surpreendente ver que depois de mais de 45 anos, estas perseguições voltaram novamente a algumas dioceses chinesas. Em 12 de Abril de 1994, na província de Zhejiang, o tribunal da cidade condenou cinco católicos. Foram acusados de cometer crimes contra-revolucionários e de terem reorganizado a Legião de Maria, «uma organização religiosa reacionária». De qualquer modo, os católicos chineses continuarão a ter uma devoção especial à sua mãe e protetora, a Virgem Maria.

 
As Aparições de Maria Santíssima Na China, DONG-LU (1900 até hoje)

 

 
"O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino" (Ap 12,13).
Ninguém ignora a férrea repressão na China vermelha a tudo que possa se referir a religião. Repressão, sobretudo, anti-cristã.Há dois santuários marianos nacionalmente famosos na China, Dong-Lu em Boading e Sheshan em Shangai.

 

O Santuário de Nossa Senhora de Sheshan em Shangai está sob o controle da Associação Patriótica (a Igreja católica nacional infiel ao Papa, criada pelo Partido Comunista), o Santuário a Dong-Lu permanece firmemente com a Igreja Católica Romana, chamada "Igreja Subterrânea". Desde 1924, católicos chineses provenientes de todas as localidades da China, viajavam todos os meses de maio para Dong-Lu com a finalidade de venerar a Mãe Santificada de Cristo.

Mas tudo isso mudou durante a Revolução Cultural.

Em pleno ataque perseguidores anti-cristãos debandam ao verem a Santíssima Virgem pairando sobre o povoado, rodeada de uma multidão de anjos
Por motivos de preconceito de fundo nacionalista, a Igreja Católica sempre encontrou enorme resistência cultural na China. Em 1900 ocorreu a “perseguição dos boxers”, nacionalistas chineses que se organizavam em clubes desportivos, praticantes de artes marciais, boxe, etc, que se tornou uma das mais terríveis. Essa perseguição deixou um saldo de milhares de mártires — 30.000, segundo algumas fontes —, entre eles cinco bispos, 130 sacerdotes e numerosos fiéis.

Foi justamente durante essa represália anti-cristã que se deu uma grande intervenção da Santíssima Virgem, ocorrida em junho de 1900. Os boxers anticatólicos estavam prestes a eliminar Dong-Lu, à época com aproximadamente 700 habitantes. Naquela ocasião, cerca de 9.000 refugiados se encontravam na aldeia, onde os padres vicentinos tinham começado uma missão. Em sua  maioria eram habitantes muito pobres.

A situação era terrível. Milhares de perseguidores cercavam a cidade, e todos pressentiam a iminência de um massacre de seus habitantes. Quando tudo parecia perdido, os perseguidores viram Nossa Senhora pairando sobre o povoado, rodeada de uma multidão de anjos. Aterrorizados, inutilmente dispararam tiros contra Ela. Diante do fenômeno inexplicável, fugiram em grande debandada.

Santuário de Dong-Lu passou a representar o Cristianismo na China

Em agradecimento por terem sido salvos do perigo, os habitantes construíram um santuário em honra à Santíssima Virgem. Por iniciativa do pároco local esculpiu-se uma imagem representando Nossa Senhora vestida com os trajes de imperatriz, que passou a ser venerada no santuário.

A aprovação do fato miraculoso pelas autoridades eclesiásticas ocorreu em 1924, em Shangai, por ocasião do sínodo dos bispos chineses. O bispo jesuíta Henri Lecroart propôs que fossem consagrados à Nossa Senhora a China, a Mongólia, a Manchúria e o Tibete, sob a invocação de Nossa Senhora Imperatriz da China. A proposta foi aceita, e em junho 150 bispos, tendo à frente o Núncio Apostólico, Mons. Celso Constantini, foi feita a consagração. Mais tarde, em 1932, o Papa Pio XI elevou o santuário de Dong-Lu à categoria de local oficial de peregrinação. Em 1941, o Papa Pio XII concedeu à Igreja da China uma festa em honra de Maria Medianeira de todas as graças, sob o título de Santa Mãe, Imperatriz da China.

Curiosamente, três fatos diferentes são estabelecidos: um é o santuário reconhecido como de peregrinação oficial; outro, uma festa litúrgica; e o terceiro, uma consagração do país. Mas na devoção popular todos se fundiram num só, e Dong-Lu passou a representar os três fatos conjuntamente.

Governo comunista mobiliza 5 mil soldados, carros blindados e helicópteros para dinamitar o santúario e confiscar a imagem da Virgem Maria

A pequena aldeia tornou-se então o berço de 40 dos 120 santos mártires canonizados pelo Papa João Paulo II em 1 de outubro de 2000.

Para grande incômodo do governo comunista, durante os últimos 100 anos, a peregrinação de milhares de católicos na China crescia em devoção e número de fiéis. Ciente dessa terrível "ameaça", em abril e maio de 1996 o governo chinês mobilizou 5 mil soldados, apoiados por dezenas de carros blindados e helicópteros, dinamitou o santuário mariano, confiscou a estátua da Virgem Maria e prendeu muitos sacerdotes.

O governo chinês passaria a considerar essa parte da Igreja Católica Romana como ilegal. Assim, a Santa Missa, catequese, batismo e outros serviços religiosos, para muitos católicos que ainda estão no subsolo deve ser realizado em casas particulares e em segredo com os riscos de multas exorbitantes, prisão, prisão domiciliar, torturas físicas e internamento em campos de trabalho.
Sacerdotes, seminaristas, freiras e leigos enfrentam perseguições e assédios contínuos. Muitos deles desapareceram e outros estão na cadeia.

Nas últimas olimpíadas de Pequim, em 2008, a igreja de Dong-Lu foi destruída

Recentemente, quando os holofotes da mídia mundial controlada se voltavam para as olimpíadas de Pequim, em 2008, a igreja de Dong-Lu foi destruída por comunistas chineses. O fato, abafado por muito tempo, causou imensa tristeza no Vaticano e indignação aos cristãos ocidentais.

No entanto, a pintura da Nossa Senhora da China manteve-se íntegra, uma vez que a imagem da igreja era apenas uma cópia. O original havia sido escondido na parede, atrás da cópia, e foi recuperado em impecável estado. Encontra-se agora em mãos dos fervorosos católicos chineses que, lamentavelmente, continuam seu trabalho missionário na igreja das catacumbas.

Católicos chineses rezam para que Bento XVI consiga restabelecer relações de compreensão e respeito com a China comunista para a liberdade da fé religiosa do seu povo.

Repressão continua em pleno século XXI
Atualmente, Dong-Lu permanece a pequena e poeirenta vila de 12 mil pessoas. Entre o casario de tijolo aparente, os mercadinhos e as fábricas de roldanas industriais, destaca-se o curioso prédio da Igreja de Nossa Senhora de Dong-Lu.

Apesar da indiferença da imprensa comunista estatal, a cidade de Dong-Lu é conhecida em pleno “paraíso” de Mao por ser o lugar onde, desde 1900, ocorrem visões da imagem da Santíssima Virgem. A última apareceu em 1995 e foi testemunhada por muitos habitantes da cidade. Muitos habitantes atestam que vêem a Santíssima Virgem frequentemente por lá. Nós, católicos, sabemos que a Mãe de Jesus e da Igreja não abandona Seus filhos.

Datas importantes do calendário cristão como Páscoa e Natal são celebradas exatamente como no Ocidente, mas tudo é feito escondido do governo, por meio de celebrações discretas e clandestinas, sem música, para evitar prisões.

Dong-Lu é cercada de oficiais da polícia à paisana que estão ali para impedir a entrada não apenas de jornalistas, mas de peregrinos que vão à cidade por conta das aparições da Virgem Maria. Os moradores que são pegos falando com a imprensa correm grande risco — afirma Joseph Kung, presidente da Fundação Kung, que ajuda os católicos clandestinos na China, hoje estimados em cerca de seis milhões.

O governo comunista teme que a cidade se transforme num centro de peregrinação. No entanto, apesar da repressão, o número de católicos na região não pára de crescer, especialmente os jovens.

Conclusão
Como vemos nesse estudo, é a partir dessa "mente revolucionária" que provém o ódio anti-cristão, agora generalizado em muitos corações. E a partir desse ódio implementa-se a cultura de morte e habilmente promove-se a imbecialização da mentalidade contemporânea, moldando-a docilmente aos sinistros propósitos do governo oculto.

Em Dong-Lu o combate entre o "Dragão" (ou antiga serpente) e a "Mulher" é literal. Em visitas clandestinas ao santuário, peregrinos perseguidos traduziram em duas frases a inevitável esperança cristã, transcritas nos dois lados da imagem da Santíssima Virgem. Em um lado lê-se: "A cabeça da serpente é esmagada. Debaixo de que pés foi derrotada?" No outro lado: "Meu filho, por que você está amedrontado? Sua mãe está a seu lado".

 

http://www.espacomaria.com.br/?cat=1&id=2012

Nossa Senhora de Qing Yang

Qing Yuang é o maior e mais importante distrito da cidade de Jiang Yin, na província de Jiang Su. Segundo os relatos dos anciãos locais, no início de 1900 uma camponesa da zona estava doente há muito tempo e não conseguia curar-se nem mesmo após muitos tratamentos. Um dia apareceu-lhe uma belíssima senhora vestida de branco com uma faixa azul. O seu rosto era condescendente e solene. Com as mãos cruzadas sobre o peito, disse a camponesa doente que recolhesse a erva da zona, que fizesse um chá e o bebesse, e assim seria curada. A mulher seguiu a ordem da Senhora e curou-se realmente. A mulher acreditava ter sido uma aparição de Kuan Yin, portanto foi ao templo para agradecer, mas não encontrou nenhuma imagem de Kuan Yin que se assemelhasse à Senhora. Um certo dia indo a casa de um católico, viu a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, e logo pôs-se a gritar: “É Ela, é Ela a Senhora que me curou!”. A notícia difundiu-se logo na zona em torno, e as pessoas vinham prestar homenagem a Nossa Senhora. A diocese comprou o terreno onde havia aparecido Nossa Senhora e construiu uma simples capela, e algum tempo depois uma igreja de estilo gótico para responder às exigências dos peregrinos que chegavam em grande número. Assim a fama de Nossa Senhora de Qing Yang difundiu-se logo em toda a província e por todo o País. A igreja de Nossa Senhora de Qing Yang tornou-se logo um dos locais mais famosos Santuários marianos da China.

 

Donglu 1: a cidade da Virgem Maria na China

 

Quem chega a Donglu, uma pequena e poeirenta vila de 12 mil pessoas a 140 quilômetros de Pequim, na província de Hebei, consegue logo destacar, entre o casario de tijolo aparente, os mercadinhos e as fábricas de roldanas industriais, o curioso prédio da Igreja de Nossa Senhora de Donglu, de orientação católica patriótica. Ou seja, seus padres — e fiéis — não devem satisfações ao Vaticano ou ao Papa Bento 16, mas ao Partido Comunista da China. 
A arquitetura da Igreja de Donglu é curiosa, misturando o formato típico das igrejas ocidentais (com suas torres e sinos) com elementos chineses, como portões em arco ou pagodas tradicionais do império Qing que abrigam imagens da Virgem Maria com o menino Jesus. Ao ver o jornalista tirando fotos em frente à igreja, no entanto, o padre Lu Zhi Chao vem correndo:
— Por favor, os policiais estão observando você disfarçadamente e não é seguro ficar aqui fora. Vamos conversar lá dentro. — diz ele.
O temor do padre Lu Zhi Chao, 37 anos, desde janeiro responsável pela paróquia, ilustra bem o clima de temor pela repressão com que o governo chinês controla as manifestações religiosas no vilarejo, considerado hoje a cidade mais católica da China. Nada menos que oito mil dos seus 12 mil moradores são católicos, ou seja, 66% de sua população. O próprio padre estima que este número possa ser maior, pois há um enorme contingente de católicos clandestinos (aqueles que continuam a obedecer ao Vaticano e, por isso, fazem missas e orações escondidos).
— Os policiais estão sempre disfarçados, de roupas comuns, vigiando a igreja, especialmente aos domingos, quando as três missas que celebramos chegam a juntar 1.500 pessoas — diz o padre.
A quantidade de católicos em Donglu e o constante policiamento sobre os fiéis têm uma razão especial. Apesar da indiferença da imprensa estatal, Donglu é conhecida na China por ser o lugar onde, desde 1900, ocorrem visões da imagem de Nossa Senhora. A última apareceu em 1995 e foi testemunhada por muitos na cidade, como o comerciante Zhang Bin, de 23 anos.

— Todo mundo aqui em Donglu já viu a Virgem em algum momento da vida. Eu era uma criança, mas me lembro bem das pessoas assustadas, chorando, apontando para o céu perto dos campos onde a gente via a imagem de Nossa Senhora entre as nuvens — conta ele.

— Nós rezamos todos os dias e celebramos o Natal exatamente como no Ocidente, mas o governo não gosta muito, então fazemos celebrações discretas, sem música, para não sermos presos — diz o estudante Tian Hao, de 18 anos. — Nem as velhinhas estão autorizadas a fazer rodas de oração em suas casas. Se elas querem rezar, o governo obriga que elas façam isso na igreja.
Para conversar com os fiéis, os jornalistas são obrigados a entrevistar as pessoas em locais fechados, como em bares ou mercados, caso contrário, não apenas os fiéis são levados para a delegacia local para interrogatório, como os jornalistas também são detidos.
— Donglu é cercada de oficiais da polícia à paisana que estão ali para impedir a entrada não apenas de jornalistas, mas de peregrinos que vão à cidade por conta das aparições da Virgem Maria. Os moradores que são pegos falando com a imprensa correm grande risco — diz Joseph Kung, presidente da Fundação Kung, que ajuda os católicos clandestinos na China, hoje estimados em cerca de seis milhões.
O chefe do escritório da agência Lusa em Pequim, Rui Boavida, foi detido por cinco horas quando visitou Donglu.
— Eles nos cercaram e nos levaram para a delegacia. Lá, me perguntaram o que me trazia à vila e eu respondi que fui fazer uma matéria sobre as fábricas de roldanas. Eles me levaram a uma delas e depois me aconpanharam até a saída da cidade para ter certeza de que eu ia embora.
O governo tem medo de que a cidade se transforme num centro de peregrinação. Os registros da primeira aparição da Virgem Maria datam de maio de 1900, chamando a atenção do Vaticano, que confirmou o milagre em 1928. Desde então, milhares de peregrinos se deslocam de vários pontos da China todos os anos até Donglu durante o mês de maio para celebrar a visão da Virgem.
— Até 1996, quando o governo começou a inibir os encontros, Donglu recebia mais de 50 mil pessoas todo o mês de maio. Hoje, a festa recebe umas mil pessoas e não pode se estender por mais de alguns dias. Mesmo sendo uma igreja católica patriótica, o governo teme que a reunião de milhares de pessoas possa evoluir para um movimento mais político, acho eu. — diz o padre Lu (ao lado), que mantém emoldurada, sobre sua escrivaninha, uma mensagem do papa João Paulo 2 aos fiéis da igreja, datada de 1990.
Apesar da repressão, o número de católicos na região não pára de crescer, especialmente os jovens.
— As pessoas precisam desenvolver seu lado espiritual num país que vem se tornando mais e mais materialista e onde todo mundo só pensa em fazer dinheiro. O número batismos, que era de até três jovens por mês, hoje é de cinco por mês.